ENTREVISTA DR. ANDRÉ VITOR FREITAS

 

O Poder Público Municipal

 de Mococa é réu contumaz

 em ações civis públicas.”

 Afirma Promotor de

 Justiça

 

 

 

Qual a função do Promotor Público?

 

 

Poderia responder esta pergunta de maneira bastante técnica, dizendo que as funções do Promotor de Justiça são aquelas previstas no artigo 127 da Constituição Federal, ou seja, a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Mas prefiro responder de uma maneira mais simples e clara, ou seja, a função do Promotor de Justiça é defender a sociedade e os interesses que lhe dizem respeito (meio ambiente, patrimônio público, ordem pública, segurança, etc), bem como os interesses das pessoas incapazes (crianças, adolescentes e adultos portadores de incapacidade mental). Na verdade, a CF/88 aumentou muito as funções do Ministério Público e, por conseqüência, dos Promotores de Justiça. Mas se pudesse resumir numa só frase esta resposta eu diria que a função do Promotor é a defesa da sociedade e a fiscalização da lei.

O Ministério Público, nos limites constitucionais, tem desempenhado papel de primeira linha nas investigações sobre falcatruas perpetradas por governantes inescrupulosos. A que exatamente pode ser atribuída esta performance?

A atuação combativa do Ministério Público em defesa do patrimônio público, da probidade administrativa e da observância dos princípios constitucionais por parte dos administradores públicos se deve primordialmente à independência que nossa instituição alcançou em 1988, com a promulgação da atual Constituição Federal. Deixamos de ser uma instituição vinculada e, de certa forma, “presa” aos interesses dos chefes do Poder Executivo, que em alguns momentos fazia as vezes de “defensor do Estado”, para nos tornarmos uma instituição autônoma, independente e desvinculada de outros órgãos estatais, que exerce a fiscalização dos ocupantes dos cargos públicos de direção sem que precisemos nos preocupar com “pressões” externas. Atualmente vemos, por exemplo, como alguns policiais são perseguidos quando atuam de forma mais incisiva e eficiente para apurar crimes praticados por pessoas ocupantes de cargos políticos considerados “grandes”. No Ministério Público isto não ocorre. Temos garantias constitucionais de que não seremos removidos de nossos cargos por qualquer motivo político, mas apenas por opção pessoal ou decisão motivada de nossa Corregedoria, após nos ser dada ampla defesa. Ou seja, em regra, nossa atuação de efetivo combate aos maus administradores públicos não nos gera nenhuma conseqüência negativa sob o ponto de vista profissional. Por esta razão, a performance do Ministério Público tem sido caracterizada por este trabalho eficiente de combate à corrupção em alguns setores do governo.

O Sr. trabalha em Mococa a pouco tempo. Foi suficiente para fazer um diagnóstico de nossas maiores deficiências do ponto de vista jurídico?

Estou em Mococa desde outubro de 2007. É uma grande experiência em minha vida profissional trabalhar aqui. Infelizmente a sensação que tenho é a de que Mococa padece do mesmo vício que a grande maioria das cidades de pequeno e médio porte: a omissão e negligência do poder público municipal em face das inúmeras necessidades sociais, bem como o desprezo para com o patrimônio público. Tendo, sob meus cuidados, diversos inquéritos civis que apuram irregularidades praticadas com o patrimônio público de Mococa, e, verificando, ao andar pelas ruas da cidade, o quanto a população local vem sofrendo com a atual situação dos serviços públicos municipais, chego à inevitável (e lamentável) conclusão de que os governantes não possuem compromisso com o interesse público, nem respeitam o dinheiro público. E não falo só do atual governo (prefeitura), mas de uma história de desrespeito e falta de compromisso com os interesses sociais que já dura décadas. E isto não é exclusividade de Mococa, o que também é lamentável.

 

Mococa tem a duvidosa honra de servir de trampolim, ou para soar mais ameno, de ser início de carreira para Promotores que esperam vagas em lugares mais promissores, em termos de carreira. Isto, de alguma forma, não atrapalha o desenvolvimento de investigações de interesse público?

Atrapalha um pouco. Este fato é inegável e gera, indiscutivelmente, um certo prejuízo para a sociedade mocoquense no que diz respeito à continuidade dos trabalhos investigativos. Importante discutir esta questão, pois a comunidade política da cidade poderia agir para tentar mudar esta situação. Só não sei se possuem interesse em modificar isto. Mococa é uma cidade muito bonita, cujos habitantes são pessoas honradas e trabalhadoras, muito acolhedoras. Não só por isso, mas por diversos outros motivos, Mococa merecia que os juízes e promotores que por aqui passam ficassem mais tempo. Houve juízes que aqui trabalharam por vários anos. Promotores também. Ultimamente não tem havido estímulo para os juízes e promotores aqui permanecerem por longo período. O volume de trabalho nas duas varas e promotorias locais é desumano. Mococa deveria ter, pelo menos, três varas e três promotorias. Eu diria que até quatro de cada. Mas duas é desumano. Para desempenhar com eficiência as funções nesta comarca, os juízes e promotores têm que trabalhar arduamente dia e noite, finais de semana e feriados. E, mesmo assim não vencemos o volume excessivo de serviço. Com o passar dos tempos, esta situação se torna exaustiva, interferindo na qualidade de vida dos profissionais, e os promotores e juízes acabam por procurar outros lugares para trabalhar. De um modo geral, todos promotores ou juízes têm planos e projetos de vida e profissionais. Mococa não é um lugar ruim para se viver. Ao contrário, é um lugar muito bom, perto de grandes centros urbanos e de locais de interesse turístico. Não deveria sofrer do problema da “provisoriedade” dos juízes e promotores, o que, a meu ver, só ocorre por causa do excessivo volume de trabalho (processos, inquéritos, expediente geral) e pelo número insuficiente destes profissionais na comarca.

 

O Brasil não é conhecido exatamente por ser um modelo de eficácia administrativa. A Justiça também reflete este anacronismo. É lenta e falha. Há maneiras de se mudar a situação?

Para que a justiça se torne mais rápida, célere, é necessário investir, planejar, organizar. Sem investimento em pessoal de qualidade, em informatização, em melhores condições de trabalho e no número de profissionais, não há como dar maior rapidez aos processos e julgamentos. Também se faz necessária e urgente uma ampla reforma na legislação processual, sobretudo na questão das ações em que as Fazendas Públicas são partes e na existência de recursos, muitas vezes usados, apenas, como forma de protelar decisões finais cujo mérito já se tornou sedimentado pelos tribunais superiores. Por fim, é importante que haja uma conscientização por parte de todos os operadores do Direito, Promotores, Juízes e Advogados, de que devemos colaborar para a celeridade da justiça, desde a elaboração de uma petição, que deve ser o mais objetiva, concisa e clara possível, até evitar a utilização de expedientes procrastinatórios, que apenas retardam a aplicação final do Direito.

 

Quando se fala em coronelismo e pressão política, a tendência é pensarmos numa estrutura econômica primária.  Na prática ela acontece em quase todo o país. O Sr. considera o Poder Judiciário na região de Mococa imune a este tipo de violência? 

 

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EDITORIAL

Num país justo, a miséria é uma violência, num país injusto,  a riqueza é uma violência”(Confúcio)       A repercussão do primeiro número de “Veredas” nos deu alento para reincidir. Na versão impressa da estréia houve equívocos e omissões que nossos esforços irão minimizar. Afinal, todo mundo merece uma segunda chance. Falemos sobre Cidadania.

       Num mundo conturbado pela acelerada transformação provocada pelo que podemos chamar, revolução tecnológica, a cidadania deve ser objeto de atenção cotidiana. O exercício de direitos e deveres parece ofuscado pelo fenômeno do consumo. O sistema alimenta a competição e provoca falsas necessidades, que causam a sensação de frustração aos milhões que estão fora da luta em função  das desigualdades de oportunidades e cuja renda, em conseqüência, mal suprem o necessário.

       A questão primordial é trabalhar para que o Estado, como mediador nas questões concernentes às classes sociais possibilite, ao maior número de pessoas, o Direito ao acesso a  serviços básicos (saúde, educação, transporte, moradia, lazer), ou seja, o mínimo para  que o exercício da cidadania se dê em sua plenitude. O abismo, entre os poucos que podem muito e os muitos que nada podem, provoca nos últimos a  exclusão da esfera social, mantendo-os à margem, alijando-os da condição de cidadão.

       “Veredas” contempla nesta edição, análises de variados ângulos sobre o tema. Boa leitura.

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O ESPINHO DA CIDADANIA

 FOTO DE DANIEL PEREZ BUSTO 2000

A discussão do exercício da cidadania, por vezes, ganha força em momento correlacionado com as proximidades de pleitos eleitorais. Mas isso é apenas uma fatia, pois se dependesse da grande mídia, resumir-se-ia, a cidadania, ao simples: exerça sua cidadania, vote! Ainda assim, não provem tal situação da Revolta do Monte Sagrado, encabeçada pelos plebeus por volta de 490 a.C. a exigir seus direitos no Tribunato da Plebe.

Se entendermos por cidadania a vaga missão do voto, consequentemente a capacidade dialética que nós portamos, seria minimizado ao botão verde. Agora, se pensarmos, pelo contrário, retomando a dialética, a participação biopsicossocial, a consideração de cidadania ganha vida e fica menos mecanicista.

Aos bípedes, consolados pela conquista de seus desejos e reconhecidos por códigos de barra, a cidadania do cartão de crédito é o abridor das mentes enlatadas. No mundo de alguns bípedes, a faixa de pedestre, respeito às adversidades ou lixo reciclável, não está na lista de cidadania. Mas alguém pode indagar: onde anda esta lista que eu nunca vi? A lista anda por ai, não é de papel pardo ou A4, ela também não tem nacionalidade. Pode-se encontrar com ela quando se dobra a esquina e vê a criança no resgate do papelão pra vender; mas a indiferença, trata de cegá-lo. A lista não requer assinaturas, requer ações, e não importa o tamanho. Cidadania, para crescer num mundo menos hostil, pode ser mais dolorido que a morte de um Maltês.

Maycon Mateus Alves, historiador, FEUC, edita o MANDACARU.

 

 

 

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CIDADANIA

Meditemos um pouco sobre o conceito de cidadania, este que teve seu berço na antiguidade, em Atenas. Naquele contexto, os cidadãos eram os que podiam opinar sobre os rumos da Pólis (cidades-estado na Grécia antiga). Porém, as exigências para ser um cidadão naquela época eram muito maiores, sendo que poucos tinham a honra de sê-lo. Mas e hoje? Cidadania é apenas ter o direito de participar das decisões públicas?

Desde que o homem surgiu sobre a face da terra, fez-se necessária a vivência em comunidade, a constituição de uma sociedade, pois de fato, um homem solitário não conseguiria suprir todas as suas necessidades diante das dificuldades impostas pela natureza. A partir do momento em que o homem se alia a outro, para o bem de ambos, nasce o contrato social. Uma espécie de trato, que deve ser respeitado por todos os participantes para que essa sociedade se mantenha válida e justificável. Trocando em miúdos, cada indivíduo tem um conjunto de deveres a cumprir para que possa também exigir seus direitos dentro dessa comunidade.

Esta gama de direitos e deveres, nada mais é que a atual idéia de cidadania, que hoje, além de ser dada a, teoricamente, todas as pessoas, abrange muito mais valores do que os gregos atribuíam a ela. Ser um bom cidadão, atualmente, é comportar-se de maneira adequada no trânsito, entre seus vizinhos, no transporte público, no que tange o respeito aos mais velhos, e também, claro, exercendo seu direito ao voto.

Então, temos a antiga idéia do contrato-social com uma roupagem um pouco mais moderna, que atenda às necessidades de nossa sociedade contemporânea.

Podemos concluir, então, que ser cidadão não é apenas ir às urnas em épocas de eleição, e sim, alinhar-se ao coletivo, pensar como membro de um corpo social. É o que podemos fazer para tornar nossa sociedade (ao menos um pouco) mais justa.

Lucas Caldeira, de SJRP, estuda Letras na USP

lucaseumesmo@yahoo.com.br

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PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA – O CAMINHO DA MUDANÇA

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Como construir uma sociedade livre e que garanta os direitos sociais e políticos do cidadão? Para responder à questão, devemos pensar que isso só é possível em uma sociedade democrática, na qual o cidadão participe plenamente das decisões políticas e tenha acesso aos bens produzidos por essa sociedade.

Quando falamos sobre direitos humanos e cidadania, devemos refletir sobre dois momentos de ruptura na historia do Brasil contemporâneo: a suspensão do direito político na ditadura militar pós – 1964 e a posterior reconquista das liberdades democráticas, momento nos quais os brasileiros foram impedidos de exercerem um de seus principais direitos como cidadãos: o voto.

A garantia de direitos individuais e sociais e a participação política são processos em desenvolvimento, ou seja, não possuem um modelo pronto e acabado a ser simplesmente seguido. A construção de uma sociedade democrática se dá a partir das próprias experiências vividas pelos sujeitos históricos, que na resistência à dominação encontram diferentes formas de participação popular.

Dessa forma vêm-nos à mente algumas questões: Todos são cidadãos? O que devemos fazer para que todos os brasileiros tenham participação efetiva na conquista da cidadania plena?

A resposta é simples: resta-nos o caminho da participação e da conscientização política, da opinião crítica e da reivindicação permanente.

 

Bruna Andrade

 

bruna-ro@hotmail.com

atriz / ELETRÔ

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL & CIDADANIA

Onde os conceitos de educação ambiental e cidadania? Lacuna exemplar nas escolas, passa batido pelos habitantes de uma cidade – Mococa é mercator pessimus – a quantidade de porcaria e sujeira que jogam no ambiente a pretexto de desenvolvimento é coisa da barbárie.

Ninguém abre mão do “desenvolvimento”, o que quer dizer que não deixarão de vender ou comprar, independente da degradação. Isso é fato.

O que devem fazer: professor e escola?

Qual deles tomará a liderança das ações?

Penso que debater desenvolvimento sustentável faz parte das pautas modernas, mas não passa de quimera civilizatória momentânea. Terminada a reunião a primeira coisa a fazer é alimentar o lixo – fabricar lixo, então – papéis e disquetes e CDs e mídias plásticas, e mais papéis, o que for, pois finda a tal reunião, que é maya (ilusão), voltam todos para seus escritórios à procura de planilhas de lucros e acúmulo de valores.

Interpretam suas personagens no teatrão-vida a que chamam realidade. Quantas serão as realidades?

Mudança de atitude e de comportamento é coisa que leva decênios – séculos – e sempre acontece no processo de decadência das civilizações. Dificilmente veremos uma justiça ideal – em tempo real. A justiça divina não é caso… é para depois.

Não acredito que haja, aí, a ação definitiva. Vejo que a consciência aparece – cai a ficha – quando desmorona o status quo, desaba o mundo. Então esperamos o Messias e nos tornamos santos sofredores.

A liderança deve aparecer nas escolas. Afirmo. Hoje, Pilatos lava as mãos em águas muito turvas.

COELHO DE MORAES, editor

coelhodemoraes@terra.com.br

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COMO SURGIU A CIDADANIA?

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O termo cidadania parece ter caído nas graças daqueles que têm na comunicação o instrumento de trabalho, como políticos, dirigentes, comunicadores, sociólogos e outros profissionais que, de alguma forma, interagem no meio social. Em seu ensaio a Veja, edição de 22/10/03, Roberto Pompeu de Toledo, ao fazer uma crítica ao comportamento do brasileiro, quando este se julga “estar por cima” e usa da impontualidade como meio de dominação, refere-se à pontualidade como expressão de igualitarismo. E acrescenta: “É, para usar detestável palavrão em voga, uma manifestação de ‘cidadania’. Na pontualidade, duas pessoas chegam junto.”. Considerada palavra “gasta”, ou não, o fato é que a cidadania é parâmetro balizador da história do homem enquanto ser social. Mesmo que, inconscientemente, o homem, na sua caminhada ao longo da História, sempre manteve a cidadania como questão central das suas lutas, como se verifica ao se recuar nos primórdios da humanidade.

A luta pela cidadania estava presente no profetismo hebreu. Os contemporâneos de Aristóteles e Platão organizavam-se para a prática da cidadania. A Roma de Cícero, através do Direito, da civitas, contribuiu significativamente na discussão dos direitos civis e políticos do cidadão. Essas histórias de lutas humanas em busca de reconhecimento de direitos do homem como cidadão, passa também pelo medievo, onde deixam vestígios os mais profundos. Em seguida, pelas revoluções burguesas, pelas lutas sociais dos séculos XIX e XX e até nossos dias. A auto-afirmação continua sendo perseguida, dia a dia, através de incansáveis batalhas contra todo tipo de iniqüidades, injustiças, opressão, etc., perversões que insistem em obstruir as ações humanas em prol de uma sociedade mais igualitária e feliz.

A história da cidadania confunde-se em muito com a história das lutas pelos direitos humanos. A cidadania esteve e está em permanente construção; é um referencial de conquista da humanidade, através daqueles que sempre buscam mais direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e coletivas, e não se conformam frente às dominações arrogantes, seja do próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas que não desistem de privilégios, de opressão e de injustiças contra uma maioria desassistida e que não se consegue fazer ouvir, exatamente por que se lhe nega a cidadania plena cuja conquista, ainda que tardia, não será obstada.

MARCOS SILVIO DE SANTANA

pensador / historiógrafo

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CIDADÃO? SIM!

Houve época em que cidadão era o morador da cidade; vilão, o morador da vila. Mudanças de tempos outros para os de hoje? Sim. Vilão hoje, onde o encontrareis? Na vila, na cidade, no subúrbio, fardado, à paisana, seja como for. Cidadão? Eis que temos poucos.

Quando falamos em cidadania, em muitos vem à cabeça a imagem de um chato: questiona, reclama, exige o cumprimento de leis, regras e tudo o mais. No entanto, cidadão é elemento precioso para a construção de uma sociedade, em nível mínimo de sustentabilidade e equilíbrio.

Para os governantes de qualquer esfera, o cidadão é lembrado periodicamente quando de eleições e pleitos. Fora desses é inconveniente. Organizado é incômodo. A prática da cidadania, em educação, por exemplo, é a aplicação de tudo o que foi estudado, na vida cotidiana do aluno, de modo que torne, com efeito, e conseqüência os saberes de qualquer disciplina. Dia desses encontrei um livro de álgebra de 1964: nenhuma figura ou possibilidade de aplicação no mundo comum do aluno tudo o que estava escrito. Apenas demonstrações de teoremas e propriedades, seguidas de 40, 50 exercícios, com gabarito a seguir. Será que não se perguntava à época o estudante: pra quê eu estudo isso? Em que me servirá no futuro? Acreditava-se que o bom professor era então, o que realizava exercícios complexos, extensos ou em grande quantidade. Hoje sabemos que bom professor também é sinônimo de associação de áreas e saberes, de modo que o aluno tenha uma visão mais ampla possível de tudo que estuda. Assim, qualquer assunto de qualquer área, terá significado e consistência para quem estuda. Muito mais interessante e despertador.

Quando o indivíduo usa seu conhecimento questionando o modus operandi da sociedade, não estará sendo chato mas sim, peça importante para seu melhoramento, o que atinge a todos. Em São Gonçalo (RJ) por exemplo, há uma ONG chamada Voto Consciente que fiscaliza as ações dos vereadores do município de tal forma, que seu fundador carrega debaixo do braço uma pasta com “material para denúncias” comparando promessas feitas por vereadores com recortes de jornais e o cumprimento delas. Incômodo? Apenas para quem possui discurso vazio, aéreo como um livro de álgebra do anos 60.

Outras ONGs fazem o mesmo (Transparência Brasil, Movimento Tiradentes (Juiz de Fora), Amigos Associados de Ribeirão Bonito (Amarribo), dentre outros). Chatos? Cidadãos.

Fernando Morgado

biologia, D pedro II, RJ

morgabio@ig.com.br

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A GANGORRA DEMOCRÁTICA

Votar, eleger o representante do condomínio,  clube,  associação,  município, estado e país, é com certeza,  a mais emblemática manifestação de cidadania. Talvez porque exija menos esforço e de uma certa maneira transfira responsabilidade. É comum reclamar de políticos, como se eles estivessem no poder por mágica. A corrupção não é prerrogativa dos políticos, (não há corrupto sem o corruptor) e as virtudes não são propriedades dos que criticam.

A democracia, embora limitada pelas condições sociais, ou, como alguém já disse, alguns são mais iguais que outros, ainda continua sendo o melhor instrumento para o aperfeiçoamento das relações políticas entre os homens. Abaixo,(resumidamente) as evoluções e involuções do direito de votar, através das constituições do Estado brasileiro, fundado em 1822, às margens do riacho Ipiranga, num aparentemente surto de mau humor de D.Pedro I.

Primeira constituição – 1824 – Império – outorgada (imposta) por D.Pedro I

Voto censitário (baseado na renda) e descoberto (não secreto)

Eleições indiretas, onde os eleitores da paróquia elegiam os eleitores da província e estes elegiam os deputados e senadores. Para ser eleitor da paróquia , eleitor da província, deputado ou senador, o cidadão teria de ter uma renda anual correspondente a 100, 200, 400, e 800 mil réis respectivamente.

Não se votava para o Poder Executivo, pois este era exercido de maneira perpétua pelo Imperador.

Segunda constituição – 1891 – República – (Proclamada em 1889)  Elaborada através de Assembléia Constituinte

Voto universal para os cidadãos maiores de 21 anos – Eleição direta para presidente. mandato de quatro anos, sem direito a reeleição.  Ficaram de fora MULHERES, ANALFABETOS, MILITARES DE BAIXA PATENTE. Lembrando que cerca de 80% da população brasileira não sabia ler e nem escrever.

Terceira constituição – 1934 – Elaborada por Assembléia Constituinte

Instituiu o voto obrigatório, secreto, para presidente,  INCLUINDO AS MULHERES.

Quarta constituição – 1937 – Outorgada (imposta) por Getúlio Vargas.

Entre  outros retrocessos estabelece eleições indiretas para presidente com mandato de seis anos. Os governadores dos estados são nomeados pelo presidente da República(interventores).

Quinta constituição – 1946 – Elaborada por Assembléia Constituinte.

Restabelece eleições diretas para os cargos do Executivo, inclusive presidente(mandato de cinco anos) e para o legislativo.

Sexta constituição – 1967 – Votada pelo Congresso Nacional e não por uma Assembléia Constituinte, com a oposição cassada e castrada pelos militares através de atos institucionais. Foi uma carta semi-ourtogada (imposta) pela ditadura para legalizar o golpe militar de 1964. A gangorra volta a pender para a arbitrariedade, estabelecendo eleições indiretas para presidente, com mandato de cinco anos. Estabelece pena de morte para crimes de Segurança Nacional (e o conceito de Segurança Nacional é bastante elástico para punir qualquer manifestação de contrariedade). Restringe ao trabalhador o direito de greve.

Emenda de 1969 (ou remendo) Ourtogada (imposta) pela Junta Militar. Os militares redigem uma emenda , permitindo a substituição do presidente por uma junta militar(eles mesmos). O AI-12, que também estabeleceu a Lei de Segurança Nacional e Lei de Imprensa (censura federal). Nota: o AI-5 vigorava desde dezembro 1968.

Sétima Constituição – 1988 – Que vigora atualmente. Chamada pelo Dr, Ulisses Guimarães de constituição cidadã. Elaborada por Assembléia Constituinte que trabalhou dois anos(1986/8). Estabeleceu eleições diretas para presidente da república, governadores e prefeitos, com mandato de 4 anos, voto facultativo a cidadãos de 16 e 17 anos. Posteriormente foi introduzida  modificação que permitiu a reeleição.  

Antonio Callado, romancista, autor de “Quarup”, numa entrevista, comparou nossa instabilidade política a um colégio interno, onde a democracia era a hora do recreio, com tempo determinado para terminar. Tomara que não haja nenhum grupo querendo apertar a campainha e anular nossas conquistas.

 

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MALIM ZAMARIAN

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V – Você tem boas recordações da boemia?

Ah! Muito boas…não tenho coragem, hoje, mais de repetir, de maneira nenhuma ah! Mas… se eu não tivesse feito acho que seria hoje um homem até triste.

V – Então, foi importante?

Muito importante… muito importante. É… muita gente confundiu boêmio com… um dos maiores boêmios de Mococa foi o Monir e ele não bebia.[…] quer dizer, eu bebia […] eu era alucinado pela noite… […] tem uma passagem que eu conto que o pessoal acha graça. Sábado pra domingo dificilmente eu chegava em casa antes das seis… e num sábado eu cheguei era cinco e pouco… sabe a casa em que nós morávamos lá na Piú Bela, a tramelinha da janelinha não ‘tava fechada… eu chegava e tirava o sapato, minha mãe, em respeito ao pai e a mãe, naquele tempo você não ia ao jardim sem paletó e gravata… eu fiquei encrencado com uma mulher na zona, seis anos, uhhh! mas, pra sair foi duro, uma parada violenta… então eu cheguei… eu cheguei do jardim, fui pro meu quarto, tirei o paletó, tirei a gravata, pegar a toalha e fui me lavar pra… Quando eu vou saindo do banheiro a minha levanta: “- ‘Cê vai pá missa, filho.” Falei: “- Eu vou”. Aí eu fui junto com ela pra Igreja…  sentei no último banco da Matriz… dormi a missa inteira. Pra não desrespeitar minha mãe.

E tive umas passagens muito… eu tive uma coisa que me agradava muito. Eu sempre tratei as prostitutas como seres humanos… seres humanos. Não que elas gostavam muito de mim, agora eu tinha muitos dos meus amigo que iam aprontando, iam dando tapa na coisa, dando pontapé… eu não! Eu respeitava… Tanto é que quando eu casei, ‘cê pode até duvidar disso,  eu peguei um maço de convite ed fui lá na Zona e “ Como é teu nome completo”. 

Na esquina da Matriz, aqui, que era um casarão riquíssimo, tinha duas ou três prostitutas para ver a saída do meu casamento da Matriz. Consideração. Educadas. Que as prostitutas no meu tempo eram educadas, não cumprimentavam ninguém na rua! Discreta! Entravam num bar… o bar do Luigim, que era um núcleo boêmio, também, quando elas entravam, se tivessem alguém conversando alto todo mundo parava, respeitava, elas pediam um copo de conhaque ou uma cerveja, sempre respeitava, agora, lá nas quatro paredes a coisa era diferente. Na rua… Hoje não precisa de zona, mais…

Eu só sincero de que melhorou em vários aspectos barbaridade, mas em alguma coisinhas piorou. Por exemplo: Cadê o romantismo, hoje? Não é o mesmo.

V – As mulheres deixaram de ser românticas?

Completamente. A gente não pode sempre generalizar. Até tenho um filho que fez uma casa muito boa, por sinal,ele tá com 38 anos, e eu: – “ Meu filho. Não fica sozinho, meu filho.  Não fica sozinho que é duro, a velhice é dura…” – Papai eu tenho medo”. Mas como ta tudo mudado. Entre eu e meu filho eu tenho um diálogo com ele. É, eu falei, olha: “- faz o seguinte… ‘cê com medo de casar?” “To”. […] eu casei com 38 anos e a minha mulher com 19. ‘cê sabe qual que é que era o medo do casamento? Enfrentar a Igreja! Eu tinha um medo, aquela coisa, mas, falei: “ Não precisa casar, filho, leva a moça pra morar com você. Se der certo ‘ceis continuam, se não der, o que que vai fazer. Eu já tenho um filho divorciado, mas, não critico, não critico de forma nenhuma.

[…] Que eu posso fazer: – “ Sou teu pai, tudo o que você fizer, conte comigo”. O que é que eu vou fazer. A sorte, e eu agradeço a Deus por isso, é que eles não tiveram filhos. Eu costumo, agora que eu estou como Titular de Juiz de Paz, não é em todos os casamentos que eu falo isso […] por exemplo: eu, tal e qual padre, já tá decorado e às vezes eu falo assim: – “Nem sempre essas palavras, eu não tenho nenhuma autoridade e nem competência pra analisar quem separou, os casais que separam, eu não tenho… não tenho direito de julgar, mas tem um frase para ser respeitada: A tinta da caneta que assina o divórcio é feita com a lágrima da criança.”

Aí dá uma entortada em que está ali perto.

E juro por Deus… e termino com estas: – “Se por acaso um dia vocês perderem as esperanças, procure-a nos fundos dos olhos de uma criança.” Terminou o casamento a mãe da noiva veio chorar no meu ombro.

V – Sobre Causos e Casos. Como foi a idéia de fazer o livro?

O Kiko viu que 15 jornais do interior tinham publicado meus causos. O que é que eu estava esperando? Não sei como.  Eu mandava para a Gazeta Esportiva. A secretaria do jornal espalhava pelo interior. O Kiko cobrando e eu tirando corpo fora. Um belo dia o Getúlio Cardoso soube e se dispôs a fazer o prefácio, ganhados de prêmios Nacional… fiquei entusiasmado, depois, professora Elenir Burrone perguntou do livro. Eu disse que não conhecia a língua e ela se prontificou, gratuitamente, a fazer as correções. Não é piada… Não conheço gramática… eu sei por ouvido. Outro empurrão. Depois, o Caçapa, um a inteligência, ele me pediu o prefácio, como era do Getúlio e o Caçapa queria participar do livro, e fuçou com a apresentação. Chorei com o prefácio, chorei mesmo e chorei com a apresentação. O exagero ficou muito grande.

Fui atrás de uma pessoa que eu admiro. Muita gente não gosta. Eu o chamo de Carlito, o professora Carlos Alberto Paladini,  pois a intimidade é muito grande. Levei uma pasta na mão.. Ele: – “ Antes de você pedir o favor… e o livro?”. Ele disse que já sabia do livro e eu queria que ele lesse. Carlito é franco. Se você disse pra mim, não cometa essa asneira, eu jogo tudo no Rio. Em quinze dias, nervoso, com um medo danado, fui atrás da reposta e o Carlito, deu uma risadinha, chamou a mulher dele: – “ Cida. Responde a pergunta do Malim. O que é que nós achamos do livro?”. Ela falou: – “ Eu gostei muito e o Carlito também”. Aí me ofereceu a capa. Enquanto ele estudava no Tio, nas Belas- Artes, trocávamos cartas. Eram notícias de Mococa para os mocoquenses estudantes.

No dia do lançamento eu fiquei das oito e mia até uma e meia dando autógrafos. Endureceu o dedo. Ficou eu e minha família, e o Carlito sentado em uma cadeira lá, me esperando. Vou mandar levar você em casa. São amizades importantes.

Então umas coisas marcam muito a vida da gente, quando a minha mulher morreu…o meu filho caçula tinha dois anos e meio. Não tive sogros… tive pais… tão bons que eles eram para mim… tive quatro pais… minha sogra passou aqui pegou os três filhos e levou pra casa dela. Pois anos e dez meses de viúvo. Piores da minha vida. Solidão, coisa triste… um dia cheguei pra minha cunhada vai lá em casa, pega aquele guarda-roupa, tudo que tiver da minha mulher ‘cê tira. Tira que eu não posso olhar naquilo.[…] e quando eu estava com astral lá embaixo, mas, bem lá embaixo eu tive que procurar um padre não um padre, não por falta de intimidade, consolo a minha mãe morreu o meu pai, 9º meu irmão, onde que eu ía buscar consolo lá, consolo no meu sogro tinha perdido um filho de 33 anos e perde uma filha de 32. Quem eu procurava? O Edgard de Freitas. Eu não chamava ele de Edgard, eu chamava ele de Silvana, que quando ele tinha uns artigos que ele escrevia ele assinava Silvana Agreste. Ele chegava na redação, na oficina do jornal, embaixo da Paulicéia: -“Não estou para ninguém”, quando ele estava escrevendo ele não queria ser molestado. – “Quando o Malim chegar, manda ele entrar.”

 

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